A desconformidade entre o número de vagas e o número de carros na cidade favorece o crescimento de um negócio extremamente rentável: os estacionamentos.
Desde que a Lei Municipal 8.055/2011, que estabelecia a cobrança fracionada e a tolerância de 15 minutos nesses espaços, foi suspensa, as empresas estão praticando preços e formas variadas de cobrança por um serviço, que às vezes deixa a desejar.
O cidadão nunca sabe como será cobrado ao estacionar o veículo. Segundo estimativa do coordenador da Associação Brasileira de Estacionamentos (Abrapark), região Nordeste, Jorge Novaes, há cerca de 200 estabelecimentos deste ramo em Salvador.
A TARDE visitou 20 deles, na última terça e quarta-feira. Os preços nesses espaços variam entre R$ 5 e R$ 9,50, por hora, e são estabelecidos de acordo com a localização.
A hora mais cara é a do aeroporto, R$ 9,50. A hora subsequente custa R$ 5. A cobrança não é fracionada.
O estudante Joabe Santos, 21, conta que deixou de pagar R$ 9,50 por uma hora, só porque ultrapassou um minuto, enquanto aguardava na fila.
"É um absurdo! Paguei R$ 5 por um minuto de estacionamento [R$ 14,50 no total]", afirmou.
A gerência da EWS Park, empresa administradora, diz que o valor está em conformidade com o aplicado no mercado, e é totalmente legal, já que não é mais obrigatório aplicar a hora fracionada.
Para estacionar no restaurante Coco Bahia, os clientes pagam uma taxa ainda maior, de R$ 12. O valor, entretanto, é único e dá direito à manobrista, mas se o serviço for dispensado, o preço permanece o mesmo.
Para a administradora Vanessa Dias, 32, que almoçou no espaço na última terça-feira, a cobrança é um abuso. "Pagamos uma conta alta pelo consumo e ainda temos que nos preocupar com o preço da vaga", reclama.
Por volta de meio-dia, a rua do entorno fica cheia de veículos e não resta opção , senão deixar o carro em uma vaga particular.
O diretor do Coco Bahia, Gilmar Garcia, explica que terceirizou o estacionamento por uma questão financeira.
"Se nós não contratássemos uma prestadora de serviço, além de pagar o aluguel do terreno, teríamos que arcar com os eventuais danos aos veículos. A Natural Park tem contrato com uma seguradora. Por isso, é mais seguro para o cliente", diz.
Além de cobrar caro pelas vagas, alguns estabelecimentos não informam claramente sobre as condições de cobrança, pedem ressarcimento em caso de perda de cartão e não toleram desistência.
Cobranças são abusivas
O titular da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor, Ricardo Maurício, diz que ainda que a lei municipal tenha sido suspensa, a população deve continuar reclamando das práticas.
Segundo ele, é ilegal, por exemplo, cobrar pela perda do ticket. "As empresas devem fazer o controle manual ou informatizado da entrada e saída de veículos. Esta cobrança é vetada pelo Código de Defesa do Consumidor", afirma Ricardo.
A cobrança de R$ 5 por um minuto excedente também é abusiva. "Viola os princípios da boa fé e da razoabilidade. Uma vez constatadas essas cobranças, o cliente é ressarcido em dobro", informa o superintendente.
O problema, entretanto, é que a maioria das pessoas que se sentem lesadas não reclamam, na maioria das vezes, por falta de tempo. Este ano, conforme a superintendência, apenas 32 queixas relacionadas ao serviço foram registradas.
Despesa
Para a terapeuta funcional Carina Vieira, 35, o gasto com estacionamentos se tornou uma despesa extra, desde que ficou grávida. "Chego a pagar R$ 20 por dia, porque vou a vários consultórios e centros comerciais. Por mês, desembolso, cerca de R$ 600. É injusto, porque pagamos tantos impostos", reclama.
Na última sexta-feira ela pagou R$ 30 no mesmo dia, para resolver problemas com a saúde.
Fonte: A tarde
|